Reflecção. Libertação. Alucinação. Paixão. Imaginação. Amor. Liberdade. Ódio. Brincadeira. Amizade. Tudo isto, e muito mais, encontrarão no meu Blog...

sábado, julho 08, 2006

Relatos de uma noite: Encontros e Desencontros...

São duas da manha, já começo a sentir no meu corpo o avançar da noite; a ajudar está o calor infernal de uma noite de verão. Estou em frente ao computador a relaxar e a conversar, mas bem no fundo não consigo livrar-me da ideia de esta ser uma noite perdida, típica de um dia (neste caso, noite) de férias em que o mais comum sentimento é não sabermos o que fazer ao imenso tempo.

Deixo-me levar pela leve brisa de calor que entra sorrateiramente no meu quarto, o tempo passa, mas contínuo a “vegetar”, esperando pelo momento em que sinta um ligeiro sinal a sono para, enfim, por termo a esta noite. São neste momento três da manhã.

O tempo voa que nem um “pardal”, e são agora três e cinco da manha. Relembro-me, nostalgicamente, da minha infância, quando cinco minutos pareciam uma hora; tal e qual como esta noite, cinco minutos a parecerem mais que uma hora, ou quase uma eternidade.

Ajo por impulso e fecho abruptamente o computador. Lembrei-me daqueles dias, naquele sítio, com aquela pessoa e aqueles carinhos e sorrisos. Por momentos sonho um bocadinho acordado, imagino o encontro que nunca houve, sorrio sozinho, e sinto nesse pequeno instante, em que a cabeça me atraiçoa, que a noite está tudo menos perdida.

Entra uma melga no quarto a fazer “zum-zum” aos meus ouvidos, abano repentinamente a cabeça da esquerda para a direita, e volto de repente ao calor abrasador do meu quarto. São três e trinta da manhã. Passei quase vinte e cinco minutos a sonhar, a cabeça pregou-me uma rasteira e eu caí, sinto-me estúpido por ter caído na velha rasteira que todos conhecemos. Mas durante esses vinte e cinco minutos, não senti a noite como perdida, nem senti o tempo passar; fico feliz por isso. Andei de volta de desencontros e encontros que pulavam na minha cabeça.

Continuo ainda sentado em frente ao computador, já desligado faz algum tempo. Estou com a cabeça apoiada no meu braço, que está em cima da secretária. Tenho um pequeno diálogo comigo próprio (uns chamam monólogo, mas é mesmo um diálogo), e confronto comigo mesmo os meus últimos dias, troco ideias e pontos de vista diferentes. Penso na noite de hoje e no dia de amanha. Penso que aquilo que realmente me apetecia era serem seis da manha e ir ter com um amigo e tomar um pequeno-almoço a uma padaria qualquer, esperando pelo lento nascer do sol; e ficar, entretanto, a conversar com as padeiras, ouvir as cusquices fresquinhas e contar-lhes algum episódio idiota (que me tenha acontecido a mim ou ao meu amigo) para nos rirmos todos. Penso novamente no dia de amanha, e no que posso fazer para ocupar o tempo. Acabo a pensar novamente naqueles dias, passados naquele sítio, com aquela pessoa; recordações ainda tão frescas. Mas agora a recordação foi mais viva, recordei-me das inocentes carícias no pescoço e no cabelo, naquilo que foi um misto de encontro e desencontro, que souberam a…

De repente levanto-me bruscamente, e sacudo novamente para longe os pensamentos. De volta ao meu quarto, sinto nas costas um calor que me faz suspirar, e no entretanto são já quase quatro da manha. Aproveito o estar de pé para ir procurar a minha gata e dar-lhe uma valente ronda de festas, e ficar ali a ouvir o seu melódico ronronar. Procuro-a, mas curiosamente não a encontro, só podemos estar desencontrados, porque dentro de casa ela está. Oiço um guizo que a denúncia, e encontro-a a apanhar fresquinho na varanda, agacho-me, entro numa maratona de festas e fico assim a ouvir o seu ronronar. Tive naquele momento um flashback, que se foi embora mais rápido do que apareceu. Preferi “ficar” ali naquele instante, naquela varanda, ao fresquinho, a fazer festinhas à gata.

A noite vai avançada, são quatro e vinte da manha, e estou de volta ao meu quarto. Sinto-me estranhamente bem, venho com o corpo frio, de estar na varanda, para dentro do quarto quente. Sinto-me quase como um semi-frio de chocolate; e estou agora, curiosamente, com essa imagem na cabeça. Entretanto, sono nem vê-lo, devemos andar desencontrados.

Deitei-me na cama de barriga pró ar, destapado. E de repente comecei a rever a tabuada; acontece que notei que sei na língua a tabuada até aos cinco, mas daí em diante estou enferrujado. Vou na tabuada dos oito, “e oito vezes cinco é quarenta, nas calmas, (pauso 1 segundo para recuperar o fôlego) e oito vezes seis é, mais oito, quarenta e oito”, reparei que curiosamente são quatro e quarenta e oito da manha; achei engraçado, acho muita piada a estas pequenas coincidências ou, se preferirem, encontros.

Ao reparar nas horas, intuitiva e automaticamente, veio-me à cabeça a imagem de um relógio. Mas não um relógio qualquer, era um relógio em particular, no que fora uma ocasião particular, era um gentil relógio prateado de linhas femininas, com o sol a fazer-lhe reflexo. Pensei uma vez, pensei duas vezes, à segunda sorri, lembrei-me de onde vinha a memória. E como diz o Malato “Fui muito feliz naquele lugar”, naquele momento sorri porque fui muito feliz naquele instante, de onde vinha a memória. O relógio fazia parte – uma ínfima parte – de uma memória, um encontro (doce e inocente).

Pimbaaaaa!! Irrompo o silêncio do meu quarto com uma mão espalmada na parede. Pobre criatura foi de encontro à minha mão, e matei uma melga; que julgo ser a que mais cedo me fizera o perturbante zumbido nos ouvidos. Era sensivelmente quatro e cinquenta da manha, e fui obviamente à casa de banho lavar as mãos. Por esta altura já não sentia o calor abrasador do início da noite. Sentia sim, e curiosamente, a ideia do semi-frio de chocolate ainda a remoer-me na cabeça; aquela imagem ainda cá andava e estava agora mais presente, por aquilo que julgo ser a “larica” de um serão longo. Fui à cozinha, na esperança de encontrar algo apelativo para comer, abri a dispensa e caí na esperada decepção de não me sentir atraído por nada do que vi. Fui na esperança ao frigorífico, a história repetiu-se, e vim num misto de decepção esperada, por não encontrar nada do meu apetite.

Eram quase cinco da manhã, e este misto de decepção esperada agastou-me ligeiramente, e senti-me cansado (mas ainda sem sono). Desta feita sentei-me na cama, e imaginei como seria espectacular fazer algo diferente desta noite, aproveitá-la; e não sentir o sentimento a noite perdida. Apetecia-me cada vez mais pegar nas chaves do carro do meu pai, e ir às suas escondidas procurar um semi-frio de chocolate a qualquer lado. Passado um segundo, caí em mim e apercebi-me que a estas horas não havia disso; quanto muito havia um hambúrguer bem recheado duma roulotte, o que também me servia.

São cinco e dez da manhã, estive no entretanto a brincar uma bola vermelha que tenho no meu quarto e que me ajuda a pensar. Estou a dar toques leves na bola, e decido repentinamente que vou realmente pegar nas chaves e ir à roulotte mais próxima comer um hambúrguer, com uma imperial e meter conversa com alguém. Ao decidir-me repentinamente, dou um toque mais bruto na bola e faço algum barulho. Ironicamente, acordo o meu pai que se levanta para ir à casa de banho. Encontramo-nos, e todos os meus planos desvanecem.

Senti-me um pouco triste. Tive que atrofiar o sentimento a aventura, que me começava a fazer crescer água na boca e fazer sentir que a noite ainda tinha algo diferente e divertido para me dar. Olhei pró relógio e eram cinco e vinte da manhã, sem compreender bem porquê, esbocei um ligeiro sorriso. E pensei que talvez devesse ir dormir um bocadinho.

Encosto-me à almofada, completamente destapado. Quase de repente começa a tocar na minha cabeça, uma velha música. Era Whitney Houston dentro da minha cabeça, e estava a ouvir I Have Nothing, por momentos até pensei que era a personagem principal do filme Bodyguard. Julgo que comecei a sonhar e encontrara o sono…

Sonhei ser o Kevin Costner e ter chegado a tempo de levar com a bala final, tornando-me herói e amado da WH. Sonhei com todos os encontros e desencontros da minha noite. Sonhei ouvir o meu pai ressonar, eu a ir buscar as chaves do carro e a aparecer dentro duma padaria com um amigo, e rir-nos com as padeiras. Sonhei ver o nascer do sol e voltar satisfeito a casa. Sonhei estar numa roulotte a comer um semi-frio de chocolate, sonhei perguntar ao indivíduo do meu lado quanto eram oito vezes seis e ouvir a resposta “Não sei, mas aquele gato à bocado disse-me que conseguia fazer o quatro”. Estava completamente espantado era a minha gata, fui a correr atrás dela; apanhei-a; repreendia-a; e fiz-lhe uma festinha. Nesse momento, sou encandeado pelo reflexo do sol. Tentei perceber de onde vinha esse reflexo, mas não era fácil, franzi um pouco os olhos, e o reflexo vinha dum elegante relógio com linhas femininas. Tentei ver melhor, vi aquele cabelo indistinguível, e não aguentei, sorri como um louco…

4 Comments:

Blogger PelaMinhaParte said...

PERFEITO PERFEITO PERFEITO!

ESTE TEXTO ESTAH LINDO E DEVIAS ENVIÁ-LO PARA UM JORNAL QUALQUER!

ESTAH MAGNIFICO!

(UmaDasPartes)

8 de julho de 2006 às 03:03

 
Anonymous Anónimo said...

Não pretendo fazer nenhum tipo de crítica literária, mas sim, dizer apenas que gostei muito.

O teu texto tem uma doçura
que me deixou a sorrir para o monitor umas quantas vezes...e ao mesmo tempo transmite uma paz de espirito estranha, porque saltita entre o que podia ser um momento de desespero, mas que é, no fundo, um daqueles momentos de felicidade serenos que se sentem "nos desencontros da noite"...foi isso que me fez sentir...

Beijinho Grande

CB

8 de julho de 2006 às 14:39

 
Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez, fico extasiada ao ler os teus textos...não sei como qualificá-los nem a ti, mas realmente tocam uma pessoa.

Muitos beijinhos *******

8 de julho de 2006 às 18:28

 
Blogger ju said...

danny..tá lindo!
identificação perfeita no lento e escruciante passar das horas, areia de uma ampuleta gigante que deita 1 grão de cada vez...lentamente.
...identificação também com semi-frio de chocolate!!
(será que além de baba camelo devo apostar no semi-frio???)

Ju

17 de julho de 2006 às 22:37

 

Enviar um comentário

<< Home